Num piscar de olhos - Capítulo 1 - A Pasta

21 de Abril de 2020 by Milton Figueiredo
Novelas
Num piscar de olhos - Capítulo 1 - A Pasta

"Se ela morrer...", pensou Susana naquela noite de garoa e frio naquela noite de sexta-feira, dia 29 de maio de 2020, na capital paulista, enquanto pegava a pasta da colega Marcela que era levada pelo SAMU.

O lenço branco com estampa de corações que Marcela tinha tapando a boca e o nariz estava encharcado de sangue. Debaixo de uma sombrinha verde, a cor preferida dela, que usava até no risco em volta dos olhos para destacá-los. Mas nada parecia combinar com Susana, nem mesmo o jaleco branco lhe caia bem. Tudo nela soava cafona... Apenas a pobre Marcela, católica praticante que era, conseguia dar vez e voz a colega de laboratório.

As duas eram cientistas e faziam parte de uma pesquisa acerca do novo coronavírus que já era caso de pânico até mesmo no Brasil. A equipe buscava um meio de descobrir uma vacina, como no resto do mundo, para mudar aquela pandemia que já havia matado milhões de pessoas.

Naquela época, os brasileiros, motivados pelo presidente da época, deixaram de se preocupar com o isolamento social, até então o único meio para tentar deter o aumento do número de contaminados e voltaram ao trabalho e a vida como se o covid-19 fosse, de fato, apenas uma gripezinha.

Também naquele período, muitos brasileiros já tinham perdido seus empregos como consequência da quarentena que prejudicara a economia. Mas o país do samba, do futebol e da novela não era o único a sofrer com isso. A China havia tido um novo surto e os Estados Unidos já havia perdido milhões de americanos para o vírus. A Itália e a Espanha, países que sofriam muito com a pandemia, voltavam aos poucos a terem a abertura do comércio, mas ainda morriam muitas pessoas.

Quando Marcela desligou o celular naquela noite, no corredor do laboratório ela o fez com lágrimas nos olhos. Susana, que voltava do banheiro, parou diante de Marcela e disse que era para ela esperar o momento certo para derramar lágrimas, principalmente diante das câmeras e dos flashes.

- Não, Susana... Essas lágrimas aqui são por minha amiga Alda que acabou de me contar que perder o emprego. Ela e o cinegrafista, que eu também conheço, foram demitidos da TV.

- Vixe! Mas, se Deus quiser, e com a sua ajuda, logo todo mundo terá seus empregos e a saúde de volta!

- Não contei nada da possível descoberta da vacina, até porque ainda não temos certeza de nada né?! Mas, se Deus quiser, hoje demos um grande passo rumo a essa vacina contra esse vírus! - disse Marcela arrumando a máscara de pano com estampa de corações no rosto.

- Vai sim, você vai ver! E além de salvar muitas vidas, você vai ficar famosa e rica! Imagina o tanto de prêmios que você vai receber!

- Ah, que nada! E eu jamais vou deixar de exaltar vocês também, foi um trabalho de equipe. Eu não teria chegado aonde cheguei se vocês de uma forma ou de outra não tivessem participado.

- Enfim, amanhã a gente tem essa certeza quando o doutor Vagner chegar... Vamô embora? Tô morta de fome! - falou Susana tentando dar um jeito naquele cabelo todo quebrado que ela tinha.

- Vamos! Vou só pegar a minha pasta e a minha bolsa que antes de dormir quero dar mais uma revisada antes de apresentar pro doutor amanhã.

Marcela entrou no escritório, pegou a bolsa, a pasta com a sua pesquisa, ajeitou o porta-retratos com a foto dela, do marido Wilson e dos filhos, o casal Tony e Vivian, sorriu e fechou a porta.

Aquela que possivelmente teria descoberto o antídoto para conter o vírus era loira, alta, seios fartos, muito educada e feliz com o casamento que tinha. Se casou aos 26 anos depois de muita insistência do descendentes de ingleses, Wilson Willians.

Aparentemente tudo estava perfeito em sua vida. Os filhos gozavam de boa saúde e o marido também. Estavam isolados na fazenda da família do marido que era do ramo de laticínios. Acharam que seria melhor esse isolamento da família já que ela estava em contato direto com o vírus por conta da pesquisa e também pelos inúmeros casos de pessoas contaminadas e mortas em São Paulo.

Quando Marcela e Susana já estavam perto da porta de saída o celular tocou novamente. Era Mariana, outra amiga de Marcela e também de Alda, a jornalista que tinha perdido o emprego na emissora onde era repórter.

- Oi amiga! Tudo bem e você?... Eu tô indo pra casa... Quê? Menina você tem que ir logo! Como que você deixa chegar sua temperatura nesse grau? Você é sem juízo mesmo!... Vai agora! pede pra um dos seus filhos te levar pro médico agora, Mariana! Muito sem juízo você!... Sim, a Alda me ligou! mas não mude de assunto! Vai agora senão eu vou sair daqui e vou pra aí!... Não quero saber! Agora!... Olha o tanto que você tá tossindo Mariana! Vai agora!... Amanhã o doutor chega e aí vamos ver o que ele fala, mas acho que sim, que posso ter achado sim o antídoto...Caramba, tá louca? Vai agora! Vou desligar que vou ter que abrir sombrinha! Chegando em casa te ligo! Vai agora, heim!? Beijo!

- É aquela sua amiga que tava com os sintomas e que não quis procurar médico de jeito nenhum? - quis saber Susana abrindo a sombrinha.

- A própria! É teimosa! Achou, como muitos, que esse vírus não era de nada, não usava máscaras, saía e não estava nem aí... Sem juízo demais!

A cientista Marcela pegou a sombrinha na bolsa e a abriu. As duas iam atravessando a rua quando um ônibus, em alta velocidade, veio sem controle e jogou Marcela longe.

Caída no asfalto molhado, Marcela parecia morta. O motorista do ônibus já desceu ligando para a emergência. A cientista ficou caída ali por mais de uma hora com Susana tapando a colega de trabalho com sua sobrinha enquanto a chuva só aumentava. A bolsa e a pasta que continha a pesquisa da vacina do coronavírus estava há uns metros delas. Susana ali só pensava em pegar aquela pasta antes que viesse uma enxurrada e a levasse.

"Se ela morrer... Eu posso dizer que a pesquisa era minha... Ninguém sabe mesmo, só eu que tava com ela no laboratório, todo mundo já tinha ido embora...", pensava Susana. Por fim a ambulância chegou e Susana pôde pegar a bolsa e a pasta de Marcela.

"Ainda bem que a pasta não molhou por dentro", disse a si mesma Susana quando entrava na ambulância para seguir com Marcela para o hospital.

Depois de passar 19 anos em coma por ter sofrido fortes lesões cerebrais, Marcela piscou os olhos e acordou em um novo mundo.

 

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