Num piscar de olhos - Capítulo 2 - O marido

01 de Maio de 2020 by Milton Figueiredo
Novelas
Num piscar de olhos - Capítulo 2 - O marido

Capítulo 2 - O marido

 

Naquela tarde de outubro, Marcela voltava aos poucos a se sentir viva depois de tantos anos deitada numa cama de hospital. Não conseguia falar, mas seu olhar conseguia refletir para a equipe médica a sua felicidade por estar viva.

Marcela não fazia ideia de quanto tempo estivera em coma. Desejava que o marido Wilson entrasse logo ali trazendo os filhos no colo. Mal ela sabia que iria se surpreender, e muito, com o tamanho que os filhos estavam agora depois de 19 anos.

Falando em Wilson, quando ele soube que Marcela tinha acordado do coma o copo d'água que segurava se espatifou no chão da cozinha. Depois que desligou o celular e o colocou no balcão procurou se sentar logo antes que caíssem de tanto que suas pernas tremiam. Não era possível que depois de tanto tempo ela tivesse despertado.

Os dias foram se passando e ninguém aparecia no hospital para visitar Marcela e ela achou aquilo estranho, mas como não conseguia se expressar teve de se contentar com a esperança. Com o tempo passando, Marcela passou a melhorar com a ajuda de fonoaudiólogos e fisioterapias, até que conseguiu perguntar a uma enfermeira o motivo que ninguém de sua família tinha aparecido ali até aquele momento.

- Dona Marcela, o que eu sei é que disseram que viriam ver a senhora sim... O pessoal deve tá um pouquinho ocupado, mas logo aparecem - respondeu uma enfermeira.

- Ma.. ma... ma... ma já fá muito tepo...

- É... Realmente tem um tempinho mesmo! Vou ver com o pessoal, ok? Depois volto. Até já!

A enfermeira sabia que Marcela iria se surpreender muito com tudo o que ficaria sabendo, mas não cabia a ela falar nada.

Dias depois, quando Marcela se sentava numa cadeira depois de exercícios de fisioterapia no quarto, entrou uma mulher de óculos vermelhos que perguntou se ela era Marcela Willians. Após a afirmativa, disse:

- Bom! Dona Marcela, eu sou Flávia Vitória, secretária da doutora Susana. É ela quem tem pago desde o acidente da senhora os custos do tratamento da senhora...

Marcela se surpreendeu com o que ouviu, pois imaginava que era o marido, já que era de família rica do ramo de laticínios.

- Ela está fora do país, mas em acompanhado de longe todo o seu estado e ficou muito feliz com a sua recuperação. Ela acredita que no começo de dezembro ela já esteja de volta e virá visitá-la, tá certo? A senhora tá precisando de alguma coisa?

- Naom... Eo agladeço... Eo anchei que meum malido que taba acando com todo... Tô mointo suplesa que a Xujana... Noxa, tô mointo glata...  - respondeu Marcela com lágrimas nos olhos pela gratidão da amiga e também por tristeza. Ela começava a achar que tinha sido abandonada pela família e que só podia contar com a amiga Susana.

E os dias continuaram a se passar. A recuperação de Marcela fora ficando a cada novo dia surpreendente, até que um dia após terminar seu desjejum e indo se sentar na cama levou um susto quando, ao se virar, viu Wilson, seu marido, agora com início de rugas e grisalho parado na porta.

Não dava para saber que estava mais surpreso e mais sem palavras. Lágrimas brotaram nos olhos dos dois. Wilson se aproximou e disse:

- Desde que me ligaram eu não conseguia acreditar que era verdade... Tantos anos... Quantos médicos disseram que você jamais iria acordar... Eu... Desculpe! Eu nem sei o que dizer...

- Eu esperei que você dissesse que estava feliz em me ver de novo!

- Claro! Claro que sim! Me desculpe mais uma vez... - respondeu todo sem graça e limpando a testa suada com um lenço branco.

- Nem um telefonema eu recebi de você... Dos nossos filhos... Nem me deixaram ligar... O que aconteceu? Wilson, sou eu!

O marido ficou em silêncio. Quase três meses haviam se passado desde que ela despertou.

- Você tem outra mulher, outra família, é isso? Eu... eu vou entender... Você achou que eu nunca mais... Enfim, é isso?

- As coisas estão bem diferentes sim, Marcela - respondeu e respirou bem fundo procurando encontrar palavras para seguir com aquela conversa e, sem ainda saber como começar a contar tudo, desconversou - Você se recuperou rápido demais. Está ótima!

- Os profissionais daqui são ótimos, tenho muito que agradecer a Susana. Pelo visto, se não fosse ela eu estaria debaixo da terra agora.

Aquelas palavras eram como tapas na cara de Wilson. Achou que poderia começar, então, por ali.

- Devo muito a Susana. Quando você sofreu o acidente e foi para o primeiro hospital, é claro eu paguei tudo. Mas a pandemia se agravou no Brasil. Nem como decretos o povo respeitava a quarentena. O país, e principalmente São Paulo virou um inferno, porque aquilo tudo que vivemos nem pode ser chamado de caos. Muita gente ficou doente e sem remédios, sem vacina, sem leitos e respiradores disponíveis muitas, mas muitas pessoas morreram. Muitas empresas faliram, inclusive a do meu pai que, se não bastasse tudo, teve um infarto e morreu. Só Deus sabe tudo o que passei... Você no hospital sem saber se um dia acordaria, as crianças, meu pai morto, os negócios indo pro ralo, minha mãe com depressão... Seu pais... - e parou de falar.

- O que tem meus pais? Nem eles vieram me visitar, nem meu irmão Mathias!

- Sinto muito... Eles morreram com o vírus... Seu irmão, em poucos anos, gastou tudo o que eles tinham deixado de herança com drogas e vida boa.

Marcela chorou em silêncio e Wilson respeitou aquele momento. Depois que ela enxugou os olhos com as mãos, ele continuou:

- Até que quase um ano depois as coisas começaram a melhorar, ao menos na saúde com a vacina que a Susana conseguiu descobrir... Todos os dias ela ligava, ia ao hospital te visitar...

- Quê? Vacina que a Susana conseguiu descobrir? - interrompeu Marcela surpresa com o que ouvira.

- Sim! Ela ficou famosa, começou a aparecer em tudo que foi mídia, a dar palestrar no mundo todo e ganhou muito dinheiro. E se não fosse ela, certamente teríamos que aceitar desligar os aparelhos que te mantiveram vivas até agora.

Marcela se levantou e começou a andar pelo quarto descalça sem conseguir aceitar e acreditar no que tinha ouvido de Wilson. A vacina que Susana "descobriu" só podia ser a que ela tinha descoberto antes do acidente. Sentiu uma forte pontada na cabeça e quase caiu no chão sendo segurada pelo marido que a ajudou a sentar na cama. Após se refazer do choque e dizer que estava tudo bem, sentiu falta de ter sido abraçada pelo marido. Desejava tanto sentir o gosto de seu beijo novamente que até se esqueceu de Susana.

- Eu... Estava com tantas saudades suas e dos nossos filhos. Cadê eles? Por que não vieram com você? Esperei tanto que, ao chegarem aqui, receberia um beijo como aquele que só você tinha para me dar... Desejei tanto me sentir segura no seu abraço...

Wilson sentiu um nó na garganta. Sentindo queimar seu rosto de vergonha, deu um beijo na testa de Marcela e a abraçou e segurou para não chorar. Mas Marcela chorou, e chorou de soluçar. Ele sentiu que o abraço de Wilson não era mais seu porto seguro. Aquele abraço já tinha nova dona. Sentindo certo orgulho afastou Wilson.

- Você tá com ela há quanto tempo? Nossos filhos eram tão pequenos quando tudo aconteceu, eles a chamam de mãe?

- Luciano! Ele se chama Luciano, estamos juntos há 13 anos, adotamos uma garota que agora tem 6 anos. Ela se chama Gisely. Nossos filhos nunca tiveram outra mãe - foi direto, cansado de fazer rodeios.

Ela sentiu vontade de ter nunca acordado. Sentiu tudo girar e uma nova pontada na cabeça. Desejou morrer naquele instante.
 

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