Professor de Farmácia do UNIFEB alerta sobre riscos e avanços no uso das canetas emagrecedoras
20 de Setembro de 2025 by Milton Figueiredo
Saúde
Nos últimos anos, o consumo de medicamentos para emagrecimento tem registrado um crescimento expressivo no Brasil e no mundo. A popularização das terapias conhecidas como “canetas emagrecedoras”, compostas por análogos do GLP-1, ampliou a procura, impulsionada por promessas de resultados rápidos.
Para o farmacêutico-bioquímico e mestre em inovação em saúde, Mateus Frederico de Paula, professor de Farmácia Hospitalar na graduação em Farmácia do UNIFEB (Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos), esse fenômeno tem explicações múltiplas. “O crescimento dessa procura pode ser explicado por vários fatores. Em primeiro lugar, a prevalência de obesidade e sobrepeso tem aumentado de forma significativa em todo o mundo, tornando-se um problema de saúde pública. Além disso, a divulgação de novas terapias medicamentosas, como os análogos do GLP-1, que são popularmente conhecidos como ‘canetas emagrecedoras’. As redes sociais e o endosso de celebridades e influenciadores também têm contribuído para ampliar a visibilidade e a adesão a esses medicamentos. Outro ponto é a crescente valorização estética do corpo magro, que, somada à busca por soluções rápidas, estimula ainda mais essa demanda”, ressalta.
Embora o impacto desses medicamentos seja relevante, Mateus ressalta que eles não podem ser vistos como solução única para a obesidade. “Esses medicamentos podem, de fato, ter um impacto positivo na saúde da população ao auxiliar na redução de peso e no controle de doenças metabólicas associadas, como diabetes e hipertensão. No entanto, é importante destacar que a obesidade é uma condição multifatorial, que envolve aspectos genéticos, psicológicos, sociais e comportamentais. Portanto, não existe uma solução única ou definitiva. Embora esses fármacos representem um avanço considerável no tratamento, eles não substituem a necessidade de hábitos saudáveis, que incluem uma alimentação equilibrada, a prática regular de exercícios físicos, o acompanhamento multiprofissional e o fortalecimento de políticas públicas de prevenção. Assim, é possível reduzir significativamente os impactos da obesidade, mas não ‘acabar’ com ela apenas por meio dos medicamentos”, orienta Mateus.
Segundo o farmacêutico, a curto prazo, os efeitos colaterais mais comuns incluem náuseas, vômitos, diarreia, constipação e desconforto abdominal. “Esses sintomas tendem a ser mais intensos no início do tratamento e podem diminuir com o tempo ou com ajustes de dose. Já em longo prazo, alguns estudos levantam preocupações em relação a complicações gastrointestinais mais graves e potenciais impactos em saúde mental, como ansiedade ou alterações de humor. Por isso, é essencial que o uso seja monitorado de perto por profissionais de saúde, garantindo segurança e eficácia”, destaca.
Ainda de acordo com o professor Mateus, embora não existam evidências científicas robustas de que esses medicamentos causem dependência química, o uso inadequado pode, sim, trazer sérios riscos. “Entre eles, estão desidratação, distúrbios nutricionais, problemas cardiovasculares e o desenvolvimento de comportamentos de risco, como a busca compulsiva por resultados rápidos. Além disso, a automedicação ou a compra em canais não oficiais aumentam o perigo de efeitos adversos e complicações. Por reconhecer esses riscos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atualizou recentemente a regulamentação, tornando obrigatória a retenção da receita médica para a dispensação de medicamentos contendo análogos de GLP-1. Essa medida busca reforçar a segurança no uso e garantir que o acesso ocorra apenas mediante prescrição e acompanhamento adequados. É importante reforçar que esses fármacos são recursos terapêuticos destinados a pacientes com indicação médica, e não soluções estéticas de uso indiscriminado”, finaliza.